África: Novo berço de golpes de estado
O ano 2021, foi marcado por golpes militares. Há muito tempo que no continente não se assistia quatro golpes de estado em único ano. A história parece não ter fim.
No Chade, em 20 de abril, um dia após a morte do presidente Idriss Déby Itno, um conselho militar de transição presidido pelo filho do falecido presidente, Mahamat Idriss Déby, até então chefe da poderosa Guarda Presidencial, dissolveu o governo e a Assembleia Nacional. Prometeu novas instituições após eleições “livres e democráticas” em um ano e meio.
Um “diálogo nacional inclusivo” deveria começar em 15 de fevereiro de 2022, mas foi adiado, principalmente porque os grupos rebeldes que realizam ataques regulares contra o governo demoram a tomar uma posição unida nas negociações com a junta militar.
No Mali, em 24 de maio, os militares prenderam o presidente e o primeiro-ministro, após a nomeação de um novo governo de transição do qual não gostaram. Após o golpe perpetrado pelos militares, o coronel Assimi Goita foi empossado em junho como presidente de transição.
Em 5 de setembro foi a vez da Guiné Conacri, o presidente Alpha Condé foi derrubado por um golpe militar. Os golpistas, liderados pelo coronel Mamady Doumbouya, prometem uma “consulta” nacional que visa uma transição política para um “governo que eles chamam de unidade nacional”.
Em 25 de outubro, no Sudão, os militares prenderam os líderes civis das autoridades de transição, o que desencadeou manifestações massivas contra esse novo golpe, liderado pelo general Abdel Fatah al-Burhan, cuja repressão deixou dezenas de mortos.
Nestes países o poder continua nas mãos dos golpistas e parece que a história continuará a ser contada. E para alguns analistas, o ano de 2022, o continente africano viverá um momento de teste para as suas democracias.
O exemplo mais actual tem que ver com a detenção do presidente de Burkina Faso Roch Marc Christian Kaboré na última segunda-feira num quartel em Ouagadougou. No poder desde 2015 e reeleito cinco anos depois com a promessa de fazer da luta antijihadista sua prioridade, Kaboré passou a ser cada vez mais desafiado por uma população cansada de violência jihadista e da sua impotência para lidar com ela.
Para Christopher Fomunyoh, diretor regional para a África Ocidental e Central no Instituto Nacional Democrático nos EUA, este cenário lembra os anos 70 e 80, em que eram frequentes golpes de Estado, mas com algumas particularidades. “A boa notícia em relação aos golpes hoje em dia é que as pessoas já não estão dispostas a simplesmente aceitá-los ou a serem cúmplices dos golpistas”.