Hospitais em Luanda registaram números altos de AVC
Segundo um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 12,2 milhões de pessoas no mundo tiveram Acidente Vascular Cerebral (AVC) em 2022 e deste número 6,55 milhões acabaram por morrer e mais de 600 mil ficaram com sequelas graves da doença.
Foto por: Joaquim José
O Jornal de Angola conta que, em Angola, o Hospital Josina Machel considera o AVC a primeira causa de morte registada no banco de urgência e a sétima na área de internamento. O médico neurologista e director dos Serviços de Neurologia do Hospital Josina Machel, Guilherme Miguel, disse que, no último mês de Setembro, às urgências registaram 99 casos de AVC e destes 11 acabaram por morrer.
No internamento, frisou, deram entrada 53 pacientes com AVC e destes sete foram a óbitos, correspondente a 13,8 por cento de mortalidade causada pela doença, do total de casos que chegaram ao Hospital Josina Machel.
O médico Neurologista explicou que, por dia, a área de Neurologia regista uma média de quatro a seis pacientes com AVC, a maioria do tipo hemorrágico. “Esta tendência contraria a literatura, que sempre considerou os AVC isquêmico como os principais nas ocorrências, mas na prática vê-se totalmente o inverso”, realçou.
Foto por: Joaquim José
No hospital Américo Boavida, de acordo com informações do director clínico foram registados 498 casos de AVC no primeiro semestre de 2022, enquanto que, no mesmo período de 2023, foram atendidos 159 pacientes com a referida doença.
Alves Cordeiro sublinhou ainda que no serviço de internamento estiveram 253 pacientes com AVC, no primeiro semestre de 2022, e no período homólogo de 2023 foram internadas 116 pessoas acometidas pela patologia.
Foto por: Joaquim José
O Hospital do Prenda registou, até o ano passado, números altos de pessoas com AVC. O director geral do Hospital do Prenda, Tomás Cassinda, explicou que, em 2022, cerca de 80 por cento dos pacientes internados na área de Medicina eram por AVC, sendo a maioria do tipo hemorrágico. “Estes pacientes, em regra, entram em coma e têm critério cirúrgico e de entubação”, acentuou.
No Complexo Hospitalar de Doenças Cardiopulmonares Cardeal Dom Alexandre do Nascimento (CHDCP) a realidade é semelhante. Do total de doentes graves que dão entrada na Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente (UCIP) 60 por cento são por AVC hemorrágico
O neurologista Guilherme Miguel explicou que o AVC ocorre por causa de uma obstrução ou rompimento dos vasos sanguíneos que levam o sangue ao cérebro. A região para de receber oxigénio e outros nutrientes necessários para o pleno funcionamento, desta forma, as células nervosas da região cerebral ficam atingidas, acabando por morrer.
O especialista em Neurologia informou que as células nervosas são as únicas a nível do corpo que não se regeneram. Por isso, prosseguiu, quando alguém é acometido por um AVC, se não for assistido dentro das primeiras 24 horas, fica com sequelas graves para o resto da vida.
De acordo com o médico, o AVC pode se originar de uma obstrução de vasos sanguíneos, o chamado acidente vascular isquémico, ou de uma ruptura do vaso, conhecido por acidente vascular hemorrágico. Em relação aos factores de risco para contrair a doença, Guilherme Miguel esclareceu que existem os modificáveis e não modificáveis. “O primeiro está relacionado com a idade avançada. Quanto mais idade a pessoa tiver, maior as possibilidades de se desenvolver a doença. Por isso, a patologia é bastante comum a partir dos 55 anos em diante. Já os modificáveis são a hipertensão arterial, aumento do colesterol, diabetes, doenças cardíacas, tabagismo, alcoolismo e as drogas sedentarismo”.
Estes factores de risco, adiantou, criam lesões nas artérias e no coração, levando à formação de coágulos que podem se desprender e entupir as artérias importantes, que levam a glicose e o oxigénio ao cérebro.
Em regra, acrescentou, os ACV como tal não têm reversão, a menos que sejam os chamados Acidentes Isquémicos Transitórios (AIT). Nestes casos, disse, a pessoa paralisa, mas, em 24 horas, pode voltar a recuperar a mobilidade.
O especialista em Neurologia apelou às pessoas a estarem muito atentas aos sinais da doença para que a pessoa afectada possa ser assistida logo de imediato, evitando assim lesões graves e irreversíveis.
Entre os sintomas constam a fraqueza de um lado do corpo, a alteração ou perda de visão, dificuldades para falar, desvio de rima labial (sorriso torto), desequilíbrios e tontura, alterações na sensibilidade, dores de cabeça fortes e persistentes e dificuldade para engolir.
Além destes problemas, as diabetes e doenças cardíacas também podem aumentar a chance da pessoa ter um AVC. Quem já teve um infarto ou tem insuficiência renal crónica também possui fortes possibilidades de ter um derrame.
Guilherme Miguel disse que é possível prevenir as crises de AVC, mas para tal é importante que a população, no geral, tenha hábitos alimentares saudáveis, evite o tabagismo e o alcoolismo, assim como pratiquem actividades físicas regulares, mantenha um bom peso corporal, controlem a pressão arterial, o nível de açúcar no sangue e de stress.