Politica

Antigo coronel diz em tribunal que a UGP financiou campanhas do MPLA e corrompeu militantes da UNITA

armandomaquengo
Ago 31, 2022

Um antigo homem de confiança da Secretaria-Geral da Casa de Segurança da Presidência, hoje Casa Militar, disse o que disse sem apresentar mais provas além da sua palavra, mas acrescentou que para atestar o que disse se devia ouvir os generais Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa” e Sequeira João Lourenço, que eram os chefes da Casa Militar na altura.


Depois do estrondo que foi a divulgação da detenção do major Pedro Lussaty, pondo em causa alguns direitos do arguido, com uma série de reportagens da TPA designadas por “O Banquete”, começa a perceber-se agora quem foram os convidados que por debaixo da mesa tiveram acesso ao festim.

Um antigo coronel da Casa de Segurança, agora Casa Militar, do Presidente da República, disse, em tribunal, que a UGP (Unidade da Guarda Presidencial) financiou campanhas do MPLA e corrompeu militantes da UNITA, escreve o Novo Jornal.

O coronel Jacinto Hengombe, antigo assistente principal da secretaria-geral da Casa de Segurança, actual Casa Militar do Presidente da República, revelou em tribunal, no prosseguimento do julgamento do “caso Lussaty”, que a UGP financiou as campanhas eleitorais do MPLA de 2008, 2012 e 2017.

O antigo homem de confiança do secretário-geral da Casa de Segurança da Presidência da República, que em 2021 viu a designação alterada para Casa Militar do Presidente da República, relevou também, sem fornecer provas complementares à sua palavra, que a UGP usou o seu fundo operativo para corromper militantes da UNITA na Jamba e Mavinga, no Cuando Cubango, assim como na província do Bié para que estes deixassem o partido e ficassem em contradição com a direcção do “Galo Negro”.

Em tribunal, esta terça-feira, 30, o coronel da UGP disse que Casa de Segurança do PR suportou as despesas logísticas do MPLA nas eleições de 2008, 2012, 2017 e que o dinheiro era canalizado para a Unidade da Guarda Presidencial através da Casa de Segurança, embora tenha dado como garantia apenas a sua palavra.

“Esse dinheiro vinha em forma de salário na Unidade da Guarda Presidencial, via Casa de Segurança, para uso exclusivo da logística do MPLA. Nós usávamos o dinheiro nos comícios, na mobilização de militantes que resultaram na vitória do MPLA, nessas eleições”, contou o arguido em tribunal, citando pelo Novo Jornal.

Aos juízes, Jacinto Hengombe disse que o tribunal pode saber mais sobre esse assunto caso chamem os generais Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, então ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República e Sequeira João Lourenço (irmão do PR João Lourenço), que eram os chefes da Casa Militar na altura.

“Na Casa de Segurança do PR, para além dos valores destinados para vencimentos e salários, havia também despesas operativas e esses valores todos passavam pela UGP. Eu recebia ordem para ir buscar os valores para as despesas operativas, que eram para apoiar as eleições. Apoiamos a campanha eleitoral do MPLA e do Presidente José Eduardo dos Santos nas eleições de 2008, 2012 e para o Presidente João Lourenço, em 2017”, relevou, sendo de notar que o tribunal não pediu para o arguido apresentar provas das graves acusações que estava a fazer.

Interrogado pelo tribunal se cabia à Casa de Segurança do PR apoiar as eleições do MPLA e do seu líder, o antigo assistente principal da secretária-geral respondeu ao juiz para questionar a direcção da Casa de Segurança.

O coronel arguido assegurou ainda que da Casa de Segurança do Presidente da República também saia dinheiro para o Gabinete de Revitalização da Comunicação Institucional e Marketing da Administração (GRECIMA), gerido pelo ex-ministro da Comunicação Social, Manuel Rabelais, tendo sido este condenado a 14 anos de prisão por desvios de fundos deste “Gabinete” que foi extinto com a chegada de João Lourenço à Presidência.