Economia

Apenas 17% dos blocos de petróleo e gás em Angola estão actualmente em produção

armandomaquengo
Fev 04, 2023

A actividade de exploração (procura por petróleo) em Angola está concentrada historicamente em apenas duas bacias, a do Kwanza e a do Baixo Congo, mas os blocos em produção estão concentrados na Bacia do Baixo Congo, que alberga a zona marítima e terrestre das províncias de Cabinda e Zaire.

Apenas 17% dos 93 blocos petrolíferos em Angola estão em produção e no ano passado estes blocos contribuíram para uma receita bruta de 40 mil milhões USD, sendo que o Estado ficou com metade deste valor por via de receitas fiscais. Mais de metade do petróleo em produção vem de campos maduros com mais de 20 anos em produção e que já observam um declínio natural da produção.

Para aumentar os volumes de produção de petróleo e gás que estão em declínio Angola precisa de encontrar mais petróleo para repor as reservas, e manter ou aumentar os volumes de produção. Para isso precisa de lançar o máximo possível dos blocos petrolíferos em exploração (fase de pesquisa e desenvolvimento de blocos), o que não tem sido fácil. A salvação para travar o declínio poderá vir dos 22 Blocos em exploração e dos mais de 55 que estão por licitar entre este ano e 2025, admitem vários especialistas do sector.

Os campos em exploração, segundo o Expansão, estão mais perto de contribuir para a reposição de reservas já que nesta fase as petrolíferas investem o seu dinheiro na procura por petróleo em quantidades comerciais. Uma vez encontrado passam para a fase de desenvolvimento, ou seja, preparar o bloco para a produção. A “maka” é que dos 10 blocos que já estavam em exploração antes das negociações directas e as recentes licitações dos blocos nas bacias do Namibe, Kwanza e Baixo Congo, pelo menos metade viu prorrogada a sua licença de exploração, que tem um prazo de 5 anos, revela a concessionária ANPG no seu relatório de gestão referente ao exercício de 2021, publicado em outubro do ano passado.

“No capítulo das negociações directas, em alinhamento com a implementação da Estratégia de Atribuição de Concessões Petrolíferas 2019-2025, importa destacar a extensão do período de produção do Bloco 0, a prorrogação do período de pesquisa dos blocos 5/06, 15/06, 16, 18/15 e 20/15”, lê-se no documento.

Os analistas ficam preocupados quando vêem Blocos como o 20/15 – que pertenciam à Cobalt, e que tem descobertas de gás e de petróleo – e o 16 – pertencia à Maersk Oil e também já tem descobertas comerciais – que hoje pertencem ao maior operador do País, a TotalEnergies, a ver as suas licenças prorrogadas já que a esta altura estava previsto estarem já em desenvolvimento. “A Total está a demorar demasiado tempo para os desenvolver, ou seja, a preparar os campos do bloco 16 para a produção, onde a Maersk Oil já fez descobertas declaradas comerciais. Neste bloco para produzir precisa ser feita a ligação e montagem das infraestruturas”, diz o especialista José Oliveira.

Por sua vez o geofísico Armindo Costa levanta preocupações sobre o Bloco 23 que está com a Sonangol e viu a licença renovada um ano antes dos blocos acima referidos. “No bloco 23, o antigo operador (Maersk) teve uma descoberta considerável, e se a memória não me engana uma boa quantidade de gás. Por razões que me parecem que poderiam ter sido bem acauteladas naquela altura, provavelmente hoje já estaria a trazer receitas ao país”, esclarece Armindo Costa.

Recorde-se que o antigo operador a Maersk Oil fez a primeira aposta em Angola com a descoberta do campo Chissonga no Bloco 16 em 2009. Perfurou ainda mais dois poços para avaliação em 2010 e 2011. Três novos “poços marginais” nos blocos 8 e 23 respectivamente. Ao que o Expansão apurou junto de várias fontes, alguns destes blocos antes operados pela Maersk Oil tinham a entrada em produção prevista para 2019.

Entretanto, a petrolífera abandonou os referidos blocos por, entre outras razões, na fase em que a petrolífera estava em Angola alguns dirigentes da Sonangol terem solicitado o financiamento de projectos de responsabilidade social um pouco estranhos para o sector, como era o caso de um aviário.

Para os especialistas José Oliveira e Armindo Costa é necessário assegurar que os programas de exploração e desenvolvimento sejam cumpridos nos prazos estipulados para evitar atrasos por um lado para atenuar o declínio e, por outro, por causa da transição energética que ameaça aos países que têm petróleo, pois se não o explorarem rapidamente ficarão com estes recursos debaixo do solo.

As licitações em curso desde 2019 aumentaram o número de blocos em exploração de 10 para 22, mas com as prorrogações grande parte destes blocos só vai contribuir com petróleo em caso de descoberta comercial em 2027, data em que termina o prazo de 5 anos de exploração nos blocos em terra. Se findo o prazo actual houver mais uma extensão do prazo de exploração nestes blocos arriscamos a ver o petróleo a jorrar dos novos blocos apenas em 2032.