Caso do profeta que violou menores vira série da Netflix
Actualmente preso,Warren Jeffs, tinha mais de 70 mulheres, muitas delas com menos de 18 anos.
Muitos afirmam que é na igreja que muitas pessoas encontram uma razão para ultrapassarem as maiores dificuldades da vida. Porém, também pode ter um lado perverso. No dia 8 de junho, estreou na Netflix, “Sejam dóceis: Rezem e obedeçam”, uma série documental que acompanha a vida de um profeta que acabou por controlar e abusar sexualmente muitas das suas seguidoras.
A Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (FLDS) surgiu após um grupo de mórmons se ter afastado da religião inicial. Em 1930, estes dissidentes fugiram de Hildale, no Utah, e acabaram por se mudar para o estado do Arizona, nos Estados Unidos.
O grupo acreditava na poligamia, uma prática que era até incentivada entre os membros. De acordo com as suas crenças, quanto mais mulheres um homem tivesse, mais perto estaria de Deus. Mas se no aspeto sexual eram bastante liberais, em todas as outras áreas da vida seguiam regras severas.
As mulheres da FLDS usavam a mesma roupa: longos vestidos brancos que tapavam todas as partes do seu corpo e o cabelo num coque. Tinham de rezar a cada hora — numa das paredes lia-se “rezem e obedeçam” — e estavam estritamente proibidas de sair para o mundo “real”. Quem o fizesse era excomungado pelo profeta.
O protagonista do documentário, é Warren Jeffs, que em 2002 se tornou no líder da Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, cargo antes ocupado pelo seu pai. Rapidamente, o quase inexistente aspeto espiritual transformou-se naquilo que podemos chamar, certamente, de seita, onde miúdos e mulheres eram abusados diariamente.
A poligamia ainda estava bastante presente na comunidade. Jeffs, por exemplo, estava casado com 78 mulheres, das quais 24 eram apenas crianças menores. A vítima mais nova, que acabou por se tornar numa das suas mulheres, tinha apenas 14 anos. Estas mulheres eram também abusadas pelos outros homens da seita, para quem se tratava de uma situação perfeitamente normal. Afinal, foram esses os valores com as quais cresceram e eram obrigadas a seguir.
“Na nossa cabeça, a polícia e até o presidente dos Estados Unidos, tinham zero autoridade sobre nós. O Warren Jeffs era o nosso presidente. Ele era o profeta. Como é que colocamos um humano acima de Deus”, diz uma das sobreviventes no documentário.
A sobrevivente em causa chama-se Briell Drecker. Não tinha mais do que 18 anos quando foi forçada a casar com o autoproclamado profeta. “Estava apavorada. Tivemos uma cerimónia e ele pediu para me sentar ao colo dele. Não tive reação”, contou ao jornal britânico “The Guardian”. Recorda-se também que era forçada a ter relações sexuais com Jeffs, enquanto o profeta repetia que fazia tudo parte do plano de Deus.
Depois de quatro anos neste universo, Jeffs foi detido, julgado e condenado pena de prisão perpétua, por manter relações sexuais com menores, bem como por incesto. Hoje em dia, continua na prisão, aos 66 anos de idade.
Em 2008, o FBI invadiu o rancho de Jeffs e da seita no Texas, ao seguirem pistas de abuso sexual e violação, acabaram por salvar mais de 400 crianças, naquele que ficou conhecido como o maior resgate infantil alguma vez realizado nos Estados Unidos.
Até hoje, Warren Jeffs continua a ser o profeta, mesmo estando na prisão — muitos dos membros acreditam que foi preso injustamente e mantêm a sua defesa intransigente.
Fonte: Nit