Cultura

Criações artísticas angolanas em Belgrado

joaquimjose
Abr 25, 2022

Obras de criadores angolanos estão expostas, até dia 31 de Agosto, no Museu de Arte Africana de Belgrado, na Sérvia, na mostra “Reflectir#2 – Fragmentos, Fragilidades, Memórias”, uma colaboração entre a instituição museológica e a galeria This Is Not a White Cube.

A exposição colectiva mostra obras, em papel, instalações, performance, pintura, fotografia, têxtil e vídeo, de Januário Jano, Luís Damião, Nelo Teixeira, Ana Silva, Cristiano Mangovo, Alida Rodrigues, Francisco Vidal, Osvaldo Ferreira, Ery Claver e Pedro Pires.

Com curadoria conjunta de Ana Knežević, Emilia Epštajn, Graça Rodrigues e Sónia Ribeiro, a exposição reúne um abrangente panorama de uma produção multifacetada com obras que revelam, no seu todo, a forte afinidade à estética e materialidade estratificada do “arquivo” cuja quase inexistência, por negligência ou depauperação endémica, se tem revelado crítica em Angola.

O projecto foi concebido propositadamente para a ala de exposições temporárias, onde o Museu de Arte Africana de Belgrado dedica à arte contemporânea, e para estabelecer diálogo com a sua colecção permanente, espaço em que integram objectos, artefactos e obras de arte que reflectem a cultura material da África Ocidental, em que Angola se insere.

A integração de obras de arte contemporânea angolana oferece assim ao público uma nova perspectiva sobre questões museológicas ainda não resolvidas, relativas à arte africana.

A exposição alimenta o ímpeto da descolonização do pensamento e inclui criações maioritariamente inéditas, sendo, por isso, uma oportunidade excepcional para conhecer um trabalho que, com uma singular linha criativa, é, simultaneamente, do ponto de vista intelectual, material e técnico, bastante diverso e híbrido.

Dados em que o ‘Jornal de Angola teve acesso’ revelam que foi feita uma selecção cuidada das obras de artistas angolanos, representativas daquilo que é, num espectro alargado, a produção artística e a reflexão intelectual de uma geração icónica nascida após a independência de Angola, em 1975, sucedendo à afirmação dos movimentos independentistas, à Guerra Colonial Portuguesa e à deposição do regime ditatorial do Estado Novo, em Portugal.

As obras foram concebidas entre 2014 e 2022, período ao longo do qual se têm vindo a maturar naquele território os processos de construção de um discurso e de uma experimentação artística promotora de uma reflexão conceptual de fundo sobre as questões que histórica, política e socialmente, de forma mais gravosa, implicam o desenvolvimento sustentado do país tendo em conta a sua História recente.

Como um todo, a mostra explora criticamente os mecanismos de criação de cânones no meio artístico ocidental, privilegiando em número, a apresentação de obras que materialmente e tecnicamente se distanciam dos suportes e dos diversos géneros artísticos.

A colecção do Museu de Arte Africana de Belgrado, foi construída a partir de meados do século XX, no contexto do confronto ideológico Leste-Oeste, de afirmação do “Movimento não alinhado”, por oposição ao colonialismo, ao imperialismo,  ao neocolonialismo e ao fortalecimento das potências coloniais ocidentais e do pensamento de carácter hegemónico.

Apesar deste contexto, a exposição não deixa de reflectir, de múltiplas formas, uma representação canonizada da arte ocidental-africana. A sua releitura, à medida do que sucedeu internacionalmente em muitas outras colecções, foi trabalhada institucionalmente, do ponto de vista interpretativo, científico e curatorial, em prol da descolonização do pensamento e da afirmação dos princípios do multiculturalismo e da diversidade cultural.