Família do jovem falecido à porta do Américo acusa agentes do SIC após resultados da autópsia
O resultado da autópsia feita ao cadáver do jovem João Fernandes Soma, de 25 anos, que faleceu na terça-feira,19, à porta do Hospital Américo Boavida (HAB), em Luanda, por suposta negligência médica, aponta como causa traumatismo craniano coincidente com agressão física que terá sofrido dias antes, nas mãos de agentes do SIC.

Familiares do jovem dizem que pouco tempo antes, o rapaz foi espancado por afectivos do Serviço de Investigação Criminal (SIC), na zona do São Paulo, local onde exercia actividade como “roboteiro” (elementos que carregam mercadoria nos armazéns e mercados).
Ao Novo Jornal, o SIC negou categoricamente o envolvimento dos seus efectivos no espancamento da vítima, como descrevem os familiares, mas garantiu estar a investigar o caso para encontrar os alegados autores das agressões e garantir a sua responsabilização criminal.
A família contou com pormenor o que se passou semanas antes com João Fernandes Soma, que veio a faleceu à porta do HAB na terça-feira.
Segundo o resultado da autópsia, a mesma aponta para traumatismo ucraniano, tendo como base provável a agressão física, embora seja impossível de garantir a 100% que se tratou efectivamente de um ou mais golpes desferidos propositadamente por terceiros.
O traumatismo craniano é uma lesão no crânio geralmente provocada por uma pancada forte na cabeça, podendo causar sintomas como perda da consciência e/ou memória, confusão mental ou dor de cabeça e, em alguns casos, lesões cerebrais graves que, sem tratamento adequado, podem conduzir à morte.
Normalmente, o traumatismo craniano é causado por quedas e acidentes de diversas formas, incluindo as agressões físicas, mas também acidentes a praticar desporto, de viação, etc:.
Entretanto, após à entrega deste resultado, que o Novo Jornal teve acesso, a família contou que João Fernandes Soma foi brutalmente espancado na passada quarta-feira, dia 13, por elementos do SIC após este ter riscado uma viatura, com o “carro de mão”, transporte artesanal para a transportação de mercadorias nos mercados informais, na zona do São Paulo, onde o mesmo exercia a sua actividade como “roboteiro”.
Mário Domingo, primo da vítima, contou que o jovem no exercício da sua actividade riscou uma viatura ligeira após se esquivar de um camião, quando foi autuado pela famosa “turma do apito”, a brigada de vigilância civil que trabalha no distrito urbano do Sambizanga que acabou por apreender o “carro de mão” e exigiu que o mesmo pagasse uma quantia monetária para ser liberto.
Como a “turma do apito” não aceitava dar o “carro de mão”, que por sinal era alugado pela vítima a outro cidadão, explica o primo, o mesmo informou o proprietário e juntos foram para lá resolver o problema.
Conta o primo que o proprietário não tinha dinheiro para dar em troca da cedência do “carro de mão” e recusou-se a deixar o carro nas mãos desta brigada de vigilância sem enquadramento legal.
“Como não lhe entregavam o `carro de mão” na turma do apito, o mesmo foi chamar os agentes do SIC”, explicou.
Por sua vez, continuou, os efectivos do SIC receberam o “carro de mão” e pediram à vítima para que os acompanhasse à esquadra.
Depois, prosseguiu este familiar, o jovem João Fernandes Soma aproveitou para fugir e foi a casa explicar à sua mãe sobre o sucedido.
“Já não voltou, ficou em casa. No dia seguinte, isto na quinta-feira, 14, começou a sentir dores no corpo e a mãe foi ainda fazer reclamação junto dos elementos do SIC. Estes, por sua vez, disseram apenas para dar-lhe um comprimido para as dores”.
No dia seguinte, isto já na sexta-feira,15, a vítima começou a queixar-se de fortes dores de cabeça e ter febre e, para a surpresa de todos, começou a tossir sangue, alternadamente até Domingo.
Como a febre aumentou, na madrugada de terça-feira, 19, levaram-no para o Hospital Américo Boavida, onde faleceu após lhe ser rejeitado o atendimento.
A direcção do HAB admite ter havido negligência médica na morte do Jovem na porta do hospital, e suspendeu o médico e todos os membros da equipa em serviço.
Realizada a autópsia, concluiu-se que a causa da morte do jovem João Fernandes Soma foi traumatismo craniano que corresponde à agressão física como provável causa.
Sobre este assunto, o Novo Jornal contactou a direcção geral do Serviço de Investigação Criminal e o superintende-chefe de investigação criminal, Manuel Halaiwa, director de comunicação institucional e imprensa do SIC-geral, contou que não houve nenhum agente envolvido nesse caso, mas assegurou que o SIC está a investigar para garantir a responsabilidade criminal dos autores das alegadas agressões.
João Fernandes Soma, residente no Sambizanga, vai a enterrar essa semana no Cemitério da Mulemba, também conhecido como Cemitério do 14.