No Bié, Artistas plásticos solicitam galeria
Os artistas plásticos da província do Bié solicitaram das autoridades competentes a criação de uma galeria nesta região, para a exposição das suas obras, o que traria maior valorização e reconhecimento dos seus trabalhos, sita à Angop.
Em entrevista à ANGOP, o artista plástico Joaquim Miguel Vitangui “Kim Vitangue, criador da obra “Roda Solidária” (ilustra informações sobre a vandalização dos bens públicos), afirmou que o Bié já necessita com urgência de um espaço para exposição, a julgar pelo número de cidadãos que ganharam o gosto pelas artes plásticas.
Actualmente, a província controla 35 artistas plásticos.
Kim Vitangue lamentou o facto de as obras actualmente serem expostas nas paredes, escadas e por vezes no chão, o que tira a sua devida importância bem como desvaloriza a criatividade dos pintores.
Realçou que os preços das suas criações variam entre 15 a 300 mil kwanzas, admitindo que nos últimos anos a procura aumentou, face ao gosto que as pessoas estão a ganhar por esta arte.
Na sua maioria, as obras retratam questões sobre patriotismo, gravidez precoce, criminalidade, vandalização dos bens públicos, meio ambiente, natureza e outros aspectos da vida socioeconómica da província.
Pediu ainda um maior reconhecimento das autoridades da província, tendo considerado um paradoxo o facto de, no exercício de apetrecho de escolas e outras instituições públicas, os quadros serem provenientes da capital do país, cidade onde os seus méritos têm sido mais enaltecidos.
“Sou filho do Bié. Pinto há mais de 20 anos e com mais de cem obras feitas. Mas nas instituições públicas e outros locais só existem quadros provenientes de Luanda”, lamentou.
Já o jovem pintor Samuel Valentim Diniz diz que a criação de uma sala de exposição seria muito importante, porque iria incentivar outros a apostar nesta arte, assim como se sentiriam mais valorizados.
De 27anos de idade, o artista, que faz igualmente trabalhos de grafite, avançou que um outro problema tem sido as dificuldades no acesso à matéria-prima, sobretudo a tinta.
“Muitas vezes temos que encomendar em Portugal, Brasil ou Espanha, o que torna mais oneroso os trabalhos”, referiu Valentim Diniz, que começou a pintar há 12 anos, mas apenas há quatro exerce a actividade de forma profissional, depois de frequentar vários cursos de capacitação.
Segundo ele, com a dificuldade no acesso aos materiais, com excepção do lápis, pincel, tecido e a madeira, que aparecem com facilidade, muitas vezes são obrigados a usar tinta adaptável.
Por outro lado, adiantou que a cidade do Cuito dispõe de áreas virgens para a feitura de grafites, próprias para a criação de temas que possam ilustrar a realidade social e económica da província.
Se autorizadas, realçou, além de apagar as amarguras da guerra que assolou o país, e o Bié, em particular, as pinturas poderiam despertar o interesse da profissão nas camadas mais jovens bem como melhorar a imagem da cidade.
Albano Sayago Eduardo, que exerce a profissão desde 2010, disse ser necessário que se continue a valorizar as artes plásticas como qualquer profissão no ramo de empreendedorismo cultural.
Mostrou-se também a favor da criação de um espaço apropriado para a acomodação dos trabalhos pintados em tela, enquanto o grafite diz não haver muitos problemas, por serem sempre do interesse do cliente.
Referiu que, até ao momento, encontra mercado também nas províncias do Cuando Cubango, Benguela, Moxico e Luanda, pelo facto de se dedicar a pintar o meio ambiente e retratos falados.
Mensalmente consegue arrecadar perto de trezentos mil kwanzas.
Informou que a obra mais cara que já vendeu custou 310 mil kwanzas.
Já o director do Gabinete Provincial da Cultura, Turismo e Juventude e Desportos no Bié, Nelson Quinta, adiantou que o sector já trabalha para a criação, nos próximos tempos, de uma galeria no largo 1° de Maio, na cidade do Cuito, para que os artistas façam a exposição e comercialização dos seus trabalhos.
Lamentou o facto de não haver, a nível da administração pública, um fundo de apoio a estes actores, mas, dentro das políticas de gestão do plano nacional da cultura, o governo do Bié traçou estratégia que estão a dinamizar as actividades culturais, através da promoção de acções de formação dos artistas, quer fazedores de música, dança, teatro, escritores e pintores.
Apelou aos artistas a trabalharem com mais afinco, para que os seus produtos sejam vendidos em qualquer parte do país.