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Pobreza poderá acompanhar os angolanos durante muito tempo – diz relatório

manuelsumbo
Mar 22, 2022

A pobreza acompanhará os angolanos durante muito tempo, “com perdas sociais anexadas relevantes e inviabilizadoras do vencimento do seu ciclo vicioso”, conclui o Relatório Social de Angola da Universidade Católica angolana.

O documento do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola, referente a 2019/2020, lançado recentemente, refere que não será apenas na criação de novos postos líquidos de trabalho que se encontrarão vias de ultrapassar a pobreza, “que anualmente cria uma série de descontentes e despersonalizados, para quem a única via de sobrevivência é a indigência”.

“Países com massas assustadoras de pobres são países desqualificados na cena internacional e para alguns o alívio da pobreza só é conseguido através das doações internacionais. Os Governos dos países com elevadas taxas de pobreza deveriam envergonhar-se e penitenciarem-se junto dos seus cidadãos, sobretudo quando coabitam com compatriotas de elevado padrão de vida”, refere-se na introdução do relatório.

De acordo com o documento, em Angola uma das prioridades sociais tem de ser a criação de um Estado social com características universais e sustentável no tempo, realçando que a taxa da pobreza não pode ser reduzida apenas pela vertente do crescimento e da criação de emprego.

O relatório defende que o Fundo Soberano de Angola tem de ser um instrumento de garantia dos equilíbrios intergeracionais e não um complemento conflituante com o Orçamento Geral do Estado.

“O Fundo Soberano, ao agregar dinheiro proveniente da exploração do petróleo não renovável  um recurso da nação pode, se se quiser, ter um papel central na construção de um Estado social amigo dos cidadãos e promotor de uma igualdade entre os cidadãos”, argumenta o relatório.

A eliminação dos subsídios a preços, nomeadamente aos combustíveis, pode ser uma fonte importante de recursos financeiros para se garantir a estabilidade do Estado social, defende ainda o documento.

Numa análise à recessão social em Angola, o relatório realça: “Depois de 2014, ficou evidente esta situação no país, com um decréscimo acentuado do valor agregado dos respetivos setores integrantes: entre 2010 e 2018, a deterioração do Produto Interno Social registou uma taxa média anula de -12% e no período 2014-2018 agravou-se a crise, passando aquele valor para -28%. Mais claro não há!”.

“Em todas as componentes são evidentes comportamentos recessivos depois de 2014, levando, por conseguinte, a admitir-se que a deterioração das condições de vida e a degradação de valores sociais, éticos e morais básicos passaram a ser uma constante na sociedade angolana”, destaca-se.

O relatório nota que o valor e a degradação dos rendimentos são as características mais salientes da recessão social no país, indicando que o valor mais elevado do Produto Interno Bruto (PIB) por habitante em dólar corrente aconteceu em 2014, apesar da queda do PIB petrolífero (resposta à baixa do preço do barril de petróleo), mas compensada por um inusitado crescimento de 42,8% no PIB não petrolífero, e de acordo com as contas nacionais.

“A partir do segundo semestre deste ano, conforme os Boletins de Conjuntura do INE (Instituto Nacional de Estatística), a queda na produção interna foi permanente, o encerramento de empresas passou a regra geral de adaptação das estratégias empresariais privadas e o desemprego passou a ser a condição normal da força de trabalho nacional. O PIB por habitante de baixo valor e o aumento da desocupação da força de trabalho contribuíram para a recessão social do país”, lê-se no relatório.

“São suficientes as considerações anteriores sobre a crise social e as suas características em Angola, nos tempos atuais, que se irá agravar substancialmente até finais de 2022”, acrescenta o documento.

Fonte: O Guardião