Politica

PR defende “aumento de produção nacional” para reduzir as importações

joaquimjose
Mar 30, 2023

O Presidente da República, João Lourenço, defendeu na quarta-feira, o aumento da produção nacional para se reduzir os preços, as importações e aumentar as exportações, a fim de Angola “atingir o nível estabelecido de industrialização estabelecido pela SADC”.

As recomendações foram feitas durante o discurso de abertura da 5ª edição da Expo Indústria, que vai decorrer na Zona Económica Especial (ZEE) até ao dia 1 de Abril, com mais de 200 expositores nacionais e estrangeiros. De acordo com o Jornal de Angola, o Chefe de Estado esclareceu que a ideia, com isso, passa por fazer face à competitividade decorrente da adesão do país aos protocolos da Zona Livre da SADC, à Zona de Comércio Livre Continental Africana e à Zona de Comércio Livre Tripartida.

“Devemos, todos, continuar a fazer um esforço organizado, sistemático e persistente para atrair o investimento privado nacional e estrangeiro, para estarmos na rota certa e atingirmos o nível de industrialização estabelecido pela SADC, fixando o nosso olhar, sobretudo, para a Zona de Comércio Livre Continental”, disse citado pelo JA.

Neste contexto, destacou o papel da indústria transformadora que, como sublinhou, contribuiu com mais de dez mil postos de trabalho para o mercado nacional, em 2022, tendo o destaque recaído para o da alimentação, uma aposta do Executivo virada para o aumento da produção industrial, a fim de garantir a auto-suficiência em bens essenciais de consumo.

O Presidente da República referiu que a taxa de crescimento do PIB real para a indústria transformadora registou, de 2018 a 2022, um acumulado de 7,7 por cento, com maior realce para o ano passado, que registou um crescimento na ordem de 6 por cento, superando, deste modo, a projecção prevista no Orçamento Geral do Estado para aquele ano.

Neste mesmo período, prosseguiu o Presidente da República, foram aprovados e implementados, no âmbito do investimento privado, mais de 200 novos empreendimentos de grande impacto no domínio da indústria transformadora, distribuídos pelas diferentes províncias nos mais variados subsectores de actividade. “Apesar dos constrangimentos causados pela pandemia da Covid-19, a nível mundial, a indústria transformadora nacional tem-se mostrado bastante resiliente”, referiu o Chefe de Estado, acrescentando que o Instituto Nacional de Estatística destaca a variação positiva da produção no ramo alimentar, sobretudo na moagem de cereais e fabricação de amidos e féculas, produção de bebidas e processamento de tabaco.

Acompanhado no evento pela Primeira-Dama da República, Ana Dias Lourenço, o Chefe de Estado disse que a resiliência demonstrada pelos “nossos” industriais, mesmo durante o período mais difícil da pandemia, revelou-se fundamental para que se verificasse, agora, um crescimento acentuado da produção industrial.

Referiu que o contexto actual da indústria transformadora nacional oferece, hoje, bastantes desafios, oportunidades, mas,  também, constrangimentos, que caracterizam o contexto global e específico da indústria nacional, num momento em que Angola continua a marcar passos bastante precisos no seu processo de abertura ao exterior, procurando, com isso, caminhos para diversificar a economia através da substituição das importações, do fomento das exportações e da diminuição da dependência do país da economia petrolífera.

Sobre este particular, o Presidente salientou que o executivo angolano continua a envidar esforços para assegurar a defesa dos direitos e garantias dos cidadãos e agentes económicos, combatendo a corrupção e a impunidade. “Para atingirmos os objectivos de crescimento e diversificação da economia, melhoria dos níveis de emprego e, consequentemente, o progresso e o bem-estar social dos cidadãos, é fundamental o desenvolvimento sustentável da indústria nacional”, aclarou.

O Presidente João Lourenço considerou ainda que o sector dos têxteis, da produção alimentar, da indústria extractiva e transformadora das rochas graníticas e ornamentais, da refinação do sal e dos metalomecânicos exemplos acabados do desenvolvimento das cadeias de valor produtivas nacionais, desde a matéria-prima até ao produto transformado.

Salientou que o arranque das três fábricas têxteis no país, cuja produção, como avançou, tende a crescer nos próximos anos, à medida que aumenta a produção interna da principal matéria prima (o algodão), prevê-se o crescimento da indústria de confecções e da moda, para satisfazer as necessidades básicas em vestuário para a grande maioria da “nossa” população.

A produção agrícola tem vindo a crescer, ano após ano, e traz consigo a necessidade premente do nascer da agro-indústria para a transformação dos produtos do campo, seu processamento, embalagem e criação de centros logísticos de distribuição às grandes superfícies, à rede hoteleira e outros”, destacou.

O Presidente da República fez saber que o país precisa de mais moageiros para transformar os cereais que vão ser produzidos no quadro do PLANAGRÂO, de matadouros para o abate do gado cuja oferta, como anunciou, vai crescer com o programa de fomento da pecuária.

Ao lado dessas necessidades, acrescentou que o país precisa, também, de uma indústria de curtumes para o aproveitamento das peles dos animais, por ser uma porta de oportunidades para o surgimento da indústria de calçado e de uma vasta gama de artigos feitos à base do couro e das peles.

O Presidente da República disse constar, igualmente, do rol de necessidades para o país um estaleiro para a construção das embarcações de pesca de todos os tamanhos, de indústrias das artes de pesca para que as redes, anzóis deixem de ser importados, de modo a permitir que o peixe e outros produtos do mar cheguem a preços módicos à mesa do consumidor. “Pelas oportunidades de emprego que dá, interessa-nos, também, atrair para Angola a indústria de montagem de automóveis ligeiros e pesados, de tractores e alfaias agrícolas”, realçou.

No entanto, o Presidente da República salientou que, para acompanhar e complementar os grandes investimentos que vêm sendo feitos em infra-estruturas e no capital humano do sector da saúde, é necessário atrair as multinacionais da indústria farmacêutica para implantarem fábricas em Angola para produzir os medicamentos e as vacinas que consumimos e exportar o excedente.

 Exploração de ferro e sua transformação

O Presidente da República, João Lourenço, disse que com a perspectiva que se tem sobre a retomada da exploração do minério de ferro e sua transformação em aço, são bem-vindos todos aqueles investidores privados que queiram apostar na indústria naval com estaleiros para a construção e reparação de embarcações para a indústria petrolífera, pesqueira, para a marinha mercante, marinha de guerra ou ainda para fins de recreio.

Apesar do esforço que o país vem realizando nos últimos anos, no aumento e melhoria das infra-estruturas de apoio às indústrias e à economia no seu todo, o Presidente da República admitiu não ser tarefa fácil o processo de atracção de investimento directo estrangeiro, na medida em que a concorrência entre países para este fim ser bastante forte. Lembrou que o país aumentou, consideravelmente, a oferta de energia eléctrica de fontes de produção hidroeléctrica e fotovoltaica, reduzindo consequentemente a produção a partir de fontes térmicas que são não só poluentes, que encarecem o preço da energia vendida ao consumidor quer doméstico quer empresarial.

A título de exemplo, disse que se está a fazer uma aposta na construção das linhas de transporte da energia produzida na bacia do baixo Kwanza, em Capanda, Laúca, Cambambe, e no Ciclo Combinado do Soyo, estando todas elas já interligadas através da rede nacional de transporte para levar essa capacidade disponível para o Leste, Sudeste e Sul do país, com vista a se ter as províncias da Lunda Sul, Lunda Norte, Moxico, Cuando Cubango, Huíla, Cunene e o Namibe ligadas à rede nacional.

“Investimentos importantes estão programados, também, no sector das águas um pouco por todo o país”, reforçou.

Sobre esta matéria, o Presidente deu a conhecer que, para Luanda, principal centro industrial do país, está-se a trabalhar para que os projectos Bita e Quilonga venham a desafogar a situação da cidade, que tem um grande déficit na produção e distribuição do referido líquido, para cerca de dez milhões de habitantes e inúmeras indústrias já instaladas e para as perspectivadas.

Para a concretização deste e outros desideratos, ligados à cadeia de desenvolvimento do país, o Presidente da República fez saber que se vai continuar com as  reformas estruturais da sociedade angolana, em todos os seus aspectos, desde as áreas económica, financeira, cambial e social, até à segurança, à justiça, à educação e qualificação das pessoas, passando pela organização do Estado e do território e em todos os aspectos que fazem de Angola um país cada vez mais atractivo para o investimento. Ressaltou que, com o investimento público ou público-privado, vai ser possível continuar a aumentar e melhorar a rede de estradas, a oferta de água e de energia eléctrica, electrificar o país, mas como acreditamos que é possível e necessário caminharmos juntos, com o investimento privado vamos industrializar o país.

Visita demorada aos stands

Depois de fazer o corte da fita, para o início das visitas à Expo Indústria, o Presidente da República visitou, acompanhado da Primeira-Dama da República, por mais de duas horas, os vários stands presentes no local, tendo interagido, demoradamente, com os expositores.

No princípio do seu discurso sobre a abertura do evento, o Presidente da República esclareceu que decidiu aceder ao convite do Ministério da Indústria e Comércio, para proceder à abertura da Expo Indústria, que ficou parada por três anos, como consequência da Covid-19, por causa da sua importância e do lema escolhido para esta edição, que foi: “É possível caminharmos juntos”.