Queremos o maior bem da Pátria contra o silêncio “cobarde” perante injustiças sociais
O bispo de Cabinda, Belmiro Chissengueti, criticou o silêncio “cobarde” de quem se cala perante situações sociais degradantes e negou que exista um ambiente de crispação entre a Igreja Católica e o executivo angolano, afirmando que o diálogo é “permanente”.

Belmiro Chissengueti, que falava à Lusa em Cabinda, após a visita do presidente angolano à província, rejeitou a existência de reações negativas por parte de membros do executivo às suas mensagens, frisando que os bispos defendem a pátria.
“Esse dito ambiente de crispação entre a Igreja e o Estado (angolano) nós não o sentimos, esse é um ambiente criado na mente de internautas, de pessoas que julgam que criticar determinada posição do Governo é estar contra o Governo”, sublinhou, fazendo a distinção entre o mundo das redes sociais, onde há um extremar de posições, e o que se passa na realidade.
“Nós (os bispos católicos), queremos o maior bem da Pátria, o maior bem do país. Não queremos ser aqueles que cobardemente fazem silêncio diante de uma situação social galopantemente decadente”, afirmou o eclesiástico, acrescentando que é missão da Igreja chamar a atenção para aquilo que deve ser feito e prevenir males que podem ser erradicados.
“Nunca houve nenhuma crispação, nunca me foi negado um encontro com o governador, antes pelo contrário. Temos um diálogo permanente, a nível central também”, garantiu Belmiro Chissengueti.
No entanto, “o facto de não haver crispação, não quer dizer que concordemos com tudo o que é feito, chamamos a atenção daquilo que não está bem”, notou o bispo, aludindo também ao lema da presente governação, que é corrigir o que está mal e melhorar o que está bem.
Entre as correções a fazer, apontou exemplos como a corrupção, a sobrefaturação, as obras mal feitas, os baixos salários
Questionado sobre se já foi pressionado ou alvo de críticas respondeu, entre risos, que deve ser “o mais criticado”.
“Isso não me aquece nem me arrefece, estou habituado a viver neste ambiente de polémicas. O certo é que digo o que penso, não sou nenhum bajulador que vive no mundo da imaginação, eu vivo do realismo”, vincou.
Sobre se em Angola ainda é dominante o culto do chefe, o bispo de Cabinda admitiu que a existência de bajuladores não é benéfica para o desenvolvimento do país.
Destacou ainda que há bajuladores, temos até alguns com título académico superior ao phD (doutorados) que, na ânsia de conseguirem cargos políticos, benefícios económicos e vantagens ainda usam as pessoas a ponto de não terem capacidade ou coragem de reconhecerem as suas falhas e ajudarem a melhorar.
“Estes bajuladores que fazem o culto do chefe tem uma capacidade de transumância incrível. Há pouco tempo eram por José Eduardo dos Santos, agora por João Lourenço e não lhes custa nada mudar para um outro. É importante que quem dirige não se deixe levar pelo culto de personalidade, saiba sobretudo ouvir aquele que pensam diferente e que muitas vezes trazem muito mais verdade do que os bajuladores”, aconselhou.