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Zungueiras clamam pela ajuda urgente e apelam para riscos de revolta

manuelsumbo
Set 08, 2022

O representante dos vendedores ambulantes angolanos alertou esta quarta-feira, para os riscos de revolta social devido à pobreza e exclusão que afecta esta classe, que representa o ganha-pão de grande parte das famílias angolanas.

Em Luanda estão por todo o lado e vendem um pouco de tudo, desde frutas a saquinhos de paracuca, garrafas de água, marmitas com refeições, carregadores para telemóveis, acessórios para automóveis, roupa, mapas de Angola, uma infinidade de bens que carregam todo o dia, percorrendo quilómetros em busca de clientes.

Na ‘zunga’ (venda ambulante) participam sobretudo mulheres que tentam sustentar a família, com rendimentos que, por vezes, chegam apenas a 500 kwanzas por dia, indigna-se José António Kassoma, presidente da associação que representa 36 mil vendedores ambulantes e feirantes em sete províncias angolanas.

Em Angola, quase 80% dos trabalhadores têm um emprego informal, percentagem que aumenta para 88% entre as mulheres, enquanto a taxa de desemprego ronda os 30%, e toca nos 57% entre os mais jovens (15 e 24 anos), segundo os dados divulgados em agosto pelo Instituto Nacional de Estatística angolano.

José António Kassoma alerta que a situação é crítica e pede soluções ao executivo, lamentando que os sucessivos pedidos de audiência com o Presidente, João Lourenço, não tenham tido resposta.

“Nós somos uma classe com muita gente, representamos a maior da população e a mais vulnerável e esta camada mais pobre está a ficar exaltada porque as políticas não os incluem”, lamenta.

O responsável diz que a pobreza e a exclusão social se têm agravado entre as famílias que dependem de ‘zungueiras’, muitas das quais sem sítio para deixar as crianças.

Excluídas das políticas sociais, as zungueiras estão dispostas a apoiar as manifestações contra o executivo angolano “porque não veem solução para os seus problemas por parte dos que estão a governar”, avisa.

“Estamos a enviar este pedido de socorro, com muita urgência, porque em Angola poderá haver uma guerra que não será de armas, será social”, acrescentou Kassoma.

“Muitos chegam até nós de lágrimas nos olhos, é uma frustração total”, desabafa o dirigente associativo , afirmando que tem havido, desde 2016, tentativa de diálogo com o executivo para tentar atenuar “este drama social”, mas sem resultados práticos.

Segundo o responsável, foram apresentadas propostas para desenvolver projetos de agricultura familiar nas províncias — de onde são originários muitos dos que tentam sobreviver em Luanda — mas que não obtiveram apoio ou fracassaram porque “o ministério só queria debater aspectos técnicos”.

Por isso, os vendedores ambulantes planeiam reunir-se em breve no mercado do Catinton para apelar à solidariedade internacional, “para que o mundo olhe para  Angola e veja este sofrimento”.

O objectivo é ouvir as preocupações da classe e pressionar o executivo para que se pronuncie e crie, em conjunto com a associação, políticas para resolver os problemas da pobreza e da exclusão social.

Lusa